Esta semana estava vendo minhas revistas e encontrei um artigo que decidi compartilhar como dica.
O assunto dessa semana é:
O Bem contra o Mal
O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo.
Trouxe essa palavra para abrir o assunto dessa semana que é:
O Bem contra o Mal
O maniqueísmo é base de todas as religiões cristãs, ou seja, aquelas baseadas na vida, pessoa e ensinamentos de Jesus Cristo: o catolicismo, o protestantismo e religiões ortodoxas orientais. Não é por acaso que muitas das historias que nos são passadas tem sempre esses dois lados: O Bem e o Mal.
Em Dungeons & Dragons, essa divisão é muito importante, pois não são apenas religiões e filosofias, ou pontos de vista. Em D&D são as forças fundamentais do universo, energias tão presentes quanto a gravidade ou a magia. Os adeptos recebem recompensas e poderes do Bem ou do Mal assim como são castigados pelo lado oposto ao escolhido. Nenhuma entidade, nem os próprios deuses, diabos, deuses e entidades pode existir sem ter uma ligação com estas forças.
E por que é tão influente justamente no primeiro e maior RPG do mundo? Talvez por sua fonte se basear em Senhor dos Anéis e outras obras de Tolkien. Muitos dos conceitos que criamos da fantasia medieval vêm dos elfos, anões e hobbits da Terra-média, e estes conceitos de Bem e Mal estão bem nítidos. Pode-se distinguir quem são os caras bons e os caras maus de S.dA com facilidade e é praticamente impossível encontrar personagens meio-termo. Obvio que alguns personagens demonstram certas fraquezas, como quando Boromir tenta roubar o anel de Frodo, mas mesmo assim pode-se dizer com facilidade em qual dos dois times ele pertence.
No mundo de S.dA, o bem e o mal não podem existir na mesma pessoa. Podemos pegar como exemplos os orcs que são elfos transmutados pelo Mal. Ou até mesmo os trolls que são entes contaminados pelo Mal. E o que dizer de Saruman e Grima Língua-de-verme que são humanos que se deixaram ser seduzidos pelo lado do mal. O maior de todos os símbolos é o Um Anel que é temido justamente por corromper criaturas boas, levando para o lado de Sauron, o Mal Absoluto.
Esse conflito veio para o RPG também junto de magos, elfos, dragões. O mal e o bem lutam entre si pessoalmente através da figura de deuses e demônios, ou através de seus campeões. Paladinos contra cavaleiros negros, clérigos contra cultistas, aventureiros contra monstros, heróis contra vilões. Existe uma balança moral e uma balança ética (que divide entre o caos e a ordem, mas não é assunto para agora).
Mas pessoas reais, na vida real, são como aparecem na Terra-média? Totalmente bondosas ou totalmente malignas? Não existe meio termo? Para muitos, existe esse meio termo, que temos o bem e o mal dentro de cada um e justamente isso nos torna humanos.
No livro Book of Exalted Deeds, suplemento importado de D&D que trata de bem e seus campeões, há uma passagem que diz:
“O que é ser bom? Muitas pessoas ficam felizes em recitar longas listas de pecados que não cometeram, como evidência de que são boas. No entanto, apenas evitar o Mal não nos torna uma pessoa boa – solidamente neutra, talvez, mas não boa. Ser bom não requer apenas evitar o mal quando ele surge, mas sim ativamente promover o Bem. Pessoas boas fazem sacrifícios pessoais para ajudar os outros.”.
Por isso que em D&D vemos algo que não é tão comum nos personagens de Tolkien que é a Neutralidade. Pessoas que não tem o desejo de levar o sofrimento a inocentes, mas também não tem disposição para ajuda-las. Um personagem neutro não é apático, ele lutará, mas apenas por seus próprios interesses. Neutralidade reflete também o comportamento dos animais que lutam apenas por sobrevivência.
Come to the Dark Side
Algumas pessoas rejeitam o D&D justamente por achar que essa divisão de bem e mal é muito infantil e que outros RPGs estão livres dessa preocupação.
Pura besteira. Vejamos o caso de Star Wars RPG.
O livro básico faz questão de esclarecer que os heróis não é necessariamente um “cara bom”, pois até um trapaceiro como Han Solo pode salvar a galáxia. Isso livra o jogo então do maniqueísmo? Não exatamente, pois ainda temos o lado negro e o lado claro da Força. Tanto é que um dos maiores atrativos do jogo é evitar cair para o Dark Side.
Em Call of Cthulhu, que é um RPG de horror, os investigadores do oculto descobrem pouco a pouco que o universo é povoado por deuses-monstros ancestrais e que a humanidade está condenada, não importando quanto lute. O horror reside no fato de existir o Mal Absoluto onde não existe o Bem Absoluto. Os humanos são todos bons então? Pelo contrário, quanto mais descobrem a verdade, mais ficam loucos, perdendo os pontos de Sanidade toda vez que presenciam cenas chocantes, usam magias proibidas ou encontram criaturas inumanas. Seus principais adversários são cultistas que adoram os deuses-monstros, cuja sanidade já lhe foi roubada há muito tempo. Portanto, cultistas são humanos que passaram para o Lado Mal.
E Vampiro: A Máscara? Essas duas palavras são motivos de piadas no Mundo das Trevas, tanto que nem aparecem na ficha do personagem. Porém, quando torna-se vampiro, o personagem vive em um delicado equilíbrio entre sua antiga condição humana e a recém-despertada Besta interior. São os famosos pontos de Humanidade. Caso pratique atos malignos, você perde pontos de humanidade, levando-o para cada vez mais perto de seu lado bestial, podendo chegar ao ponto de tornar-se uma fera animalesca.
Assim, vampiro é sobre bem e mal lutando no interior de cada um.
Lados do Conflito
Conflito é a palavra chave para definir o que vai ser discutido agora.
Muitos RPGs não tem os conceitos de bem e de mal, mas então quem são os antagonistas?
Todo RPG precisa do conflito, seja ele um adversário a derrotar, uma transformação a superar, uma fraqueza pessoal a ser vencida, um desastre natural a qual sobreviver ou uma corrida contra o tempo.
Mas em geral, na maioria dos RPGs, os conflitos serão contra antagonistas. Ou seja, um personagem ou criatura com interesse oposto ao seu.
Porém, isso não caracteriza o conceito de bem e mal, nem quem está certo ou errado, até porque certo e errado depende do ponto de vista.
Voltando ao Vampiro, constatamos que existe um bem e mal interno, mas externamente não funciona bem assim. Não existe um lado bom ou mau, apenas lados com suas convicções.
Injustiça no Oriente?
Em cultos orientais, existe o bem e o mal, mas eles não devem entrar em conflito. Na verdade os opostos devem se equilibrar no universo. A vida não existe sem a morte, o claro não existe sem o escuro, yin e yang.
Portanto, não existe bem ou mal, pois tudo e todos têm sua função na existência.
Se vocês repararem bem, poucas são as histórias onde existe um grupo como “Liga da Justiça” ou “Os vingadores” que defendem a justiça. “Justiça” é um pouco estranho para os orientais, pois justiça implica em proteger o “certo” e punir o “errado”.
Nos animes, os heróis têm valores diferentes. Em “Cavaleiros dos Zodíacos”, os cavaleiros defendiam a deusa Athena. Em “Dragon Ball Z”, os guerreiros lutam principalmente para defender seus amigos. Goku não foi até Namek para deter o “malvado” Freeza; foi para ajudar seus amigos a conseguirem as esferas do dragão. O mesmo acontece com “Naruto”, onde o personagem apenas está atrás de seus ideais. O caso que mais pode definir esse conceito é o anime “One Piece”. Na historia, os protagonistas são piratas que lutam contra a marinha, onde as pessoas comuns temem os piratas. Mas todos estão apenas atrás de seus objetivos, mesmo que isso signifique atacar uma base da marinha ou ajudar um companheiro a fugir da prisão.
Aqui no ocidente, não há um filme da Disney onde não exista um “vilão” que é castigado ou punido no final da história. No caso dos orientais, o diretor Hayao Miyazaki encantou o mundo com obras como “Meu Amigo Tomoro”, “Princesa Mononoke” e “A Viagem de Chihiro” – todas historias sem “vilões”.
Claro que existe o “Grande Freeza”, mas o que define ele como “vilão”? Como citei o caso de “One Piece”, existem apenas os antagonistas com propósitos opostos ao do protagonista.
Se acompanharem os animes, vão identificar diversos vilões que no final mostram que suas atitudes eram para defender um aliado indefeso, ou tentava corrigir uma injustiça pessoal, ou algo que nós também faríamos em seu lugar.
Japoneses não são maniqueístas, mas jogam RPG, porém são grandes fãs de RPGs eletrônicos como Final Fantasy, Xenosaga, etc. Um grupo de japoneses se reuniu em uma escola para jogar uma campanha com sistema próprio levou avante uma campanha que ganhou versões em livros, quadrinhos e desenhos animados. Era chamada de Lodoss Tou Senki ou Record of Lodoss War. A obra de Ryo Mizuno foi muito influenciada por D&D e mais tarde inspirou grande parte dos animes com tema de fantasia medieval. Mesmo sendo baseado em D&D, os “vilões” também não são tão maus, eles apenas tem seus próprios ideias que vão contra os dos protagonistas.
A batalha entre bem e mal é parte integrante de nossa cultura e também dos jogos de RPG, mas como este é um jogo que cada grupo joga como quiser, cabe aos jogadores e o mestre decidir como essas forças influem em sua campanha.
Fonte: Revista Dragão Brasil
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